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Análise do Debian 5 (lenny)

Quase dois anos após o lançamento da versão 4.0 (codinome “Etch”) — e pouco depois do lançamento de sua sétima revisão —, a equipe de desenvolvimento do projeto Debian lançou finalmente a versão 5.0 (codinome “Lenny”) de uma das distribuições GNU/Linux mais conceituadas entre os profissionais habituados a trabalhar com o sistema do pinguim. Base para uma quantidade imensa de outras distribuições — entre elas o popular Ubuntu Linux, o Xandros, que equipa todos os modelos do EeePC, da ASUS, além das brasileiras DreamLinux, Insigne (pré-instalada em mais de 1.5 milhões de PCs para todos, comercializados no Brasil) e do (finado?) Kurumin Linux, uma das distribuições mais populares no Brasil no passado — o Debian GNU/Linux chega aos 16 anos emancipado: poucas distribuições Linux atingiram esse grau de maturidade com o nível de qualidade do projeto fundado em 1993 por Ian Murdock.

Em nosso teste usamos o CD de instalação via rede (ou netinst), um único CD que permite instalar todo o sistema operacional, mas contém apenas a quantidade mínima de software para começar a instalação e obter os outros pacotes pela Internet. Como os servidores do projeto Debian estão atualmente bastante sobrecarregados, a melhor maneira de obter a imagem do CD é recorrer ao bom e velho BitTottent, cujo arquivo .torrent pode ser obtido aqui. Com uma conexão banda larga comum, a imagem do CD (que tem apenas 150 MB) pode ser baixada em alguns minutos.
Instalação

A instalação não reserva muitas dificuldades ou surpresas: basta colocar o CD no respectivo leitor de mídia e escolher uma das alternativas que aparecem na tela, sendo que as opções Install e Graphical Install fazem exatamente aquilo que se supõe: instalam o sistema em modo texto ou gráfico. É digno de nota o fato de que é a primeira vez que um instalador gráfico é parte integrante de uma versão estável da distribuição Debian GNU/Linux.

A partir daí, sendo a instalação em modo texto ou gráfico, escolhe-se o idioma de instalação, o país e a disposição do teclado, dá-se um nome à máquina que está sendo instalada, configura-se o sistema para usar um servidor de horário (NTP) e particiona-se o(s) disco(s) para onde o sistema deverá ser instalado. Aqui uma recomendação de cautela: se for necessário criar diversas partições, é importante certificar-se de que há espaço suficiente no diretório raiz (/), em /var e em /usr. Em nossos testes, foi utilizado um esquema de se colocar a partição /home, na qual residem os dados dos usuários, separada do resto do sistema. Isso gerou problemas mais tarde, pois a etapa de seleção de software, apesar de levar em consideração a quantidade de espaço disponível no restante do sistema (que havia ficado simplesmente em /) — espaço esse sugerido pelo instalador quando do particionamento —, permite que se escolha mais aplicativos do que o espaço comporta. Não há qualquer mensagem de aviso ao usuário, recomendando que ele refaça a sua seleção de software. O particionamento do(s) disco(s), diga-se de passagem, apesar de simples, reserva muito espaço para melhoras, conforme já mostrou ser possível a última versão do Ubuntu, um derivado do Debian, conforme escrevemos acima. Seria interessante que houvesse um nível maior de colaboração entre as duas comunidades, com um consequente aumento de “polinização cruzada” entre os aplicativos dos dois projetos.

Após a senha do administrador e um usuário comum serem definidos, o repositório de software ser configurado, a seleção de software especificada estar instalada e a configuração do gerenciador de boot ser finalizada, basta reiniciar o sistema para iniciar um Debian 5.0 pronto para uso.
Uso como desktop?

O sistema é equipado com um kernel 2.6.26, finalizado por Linus Torvalds em 13/07/2008 e, desta forma, sete meses antes do lançamento do Lenny e duas versões mais velho do que o kernel mais recente, a versão 2.6.28(.5). Isso pode significar algum transtorno, especialmente para usuários de placas de rede WiFi e 3G para as quais novos drivers para Linux tenham sido lançados nos últimos seis meses. Razão para o uso de uma versão do kernel tão “antiga”, quando as últimas versões tanto do Ubuntu quanto do Fedora, lançadas respectivamente no final de outubro e novembro de 2008 já usam a versão 2.6.27, é a política de qualidade do projeto Debian, que premia a estabilidade do software. Usuários do Sid, ramo de desenvolvimento do Debian cuja árvore de dependências entre aplicativos é considerada instável (daí seu nome, unstable), também estavam limitados até agora ao kernel 2.6.26.
Desktop padrão do Debian 5.0, com o Iceweasel e o BrOffice.org Writer abertos e um filme sendo reproduzido no Totem.

Do ponto de vista das versões dos aplicativos instalados, uma novidade é a instalação de um servidor de janelas isento de configuração (X-Server 7.3). Pacotes para os drivers proprietários da ATI e da NVIDIA não são instalados por padrão e não há qualquer mecanismo trivial para instalá-los, muito embora eles estejam disponíveis na seção non-free do repositório da distribuição. O usuário tem que instalá-los ativando essa seção do repositório via linha de comando com o apt-get/aptitude ou graficamente com o synaptic.

Algo muito peculiar ocorre com codecs para formatos proprietários de áudio (MP3, WMA) e vídeo (QuickTime, WMV, H264 em geral): o Totem instalado por padrão não é capaz de reproduzi-los automaticamente, requerendo a instalação de plug-ins proprietários, algo que é muito simples, pois o próprio sistema se encarrega de instalá-los automaticamente se o usuário concordar com um aviso exibido na tela. Já o plug-in do Totem para o navegador de Internet foi capaz de reproduzir em nosso teste todo o tipo de conteúdo, pois conta com suporte aos codecs proprietários por padrão.

Ponto para o projeto BrOffice.org: a instalação em português do sistema instala automaticamente a versão nacionalizada do conjunto de aplicativos para escritório, em vez do OpenOffice.org. Infelizmente, da mesma forma que ocorreu com a última versão do Ubuntu, a versão instalada no Debian 5.0 ainda é a 2.4.1. A versão 3.0.0 sequer foi disponibilizada na árvore instável do projeto. Usuários que quiserem usar as fontes TrueType básicas da Microsoft deverão também ativar a seção contrib do repositório do Debian e instalá-las por meio do pacote ttf-mscorefonts-installer (o pacote msttcorefonts, utilizado até então para essa finalidade, deve ser eliminado do sistema em uma das próximas revisões).

Irritante é o fato de que nenhum dos aplicativos básicos da Adobe — a saber, o Adobe Reader (e seu respectivo plug-in para navegadores de Internet) e a extensão Flash Player para os navegadores de Internet — estão disponíveis em qualquer das seções dos repositórios oficiais do sistema. A versão 0.6.0 do Swfdec é responsável pela reprodução de animações em Macromedia Flash (a última versão estável do Swfdec, lançada no dia 21/12/2008, era a 0.8.4) e o Evince é o visualizador de arquivos PDF. O motivo que os desenvolvedores do Debian alegam para não disponibilizar os dois aplicativos da Adobe na seção non-free do repositório da distribuição, seria um problema com a nomenclatura das versões dos programas, que levaria a uma dificuldade de sincronizar atualizações de segurança realizadas pela Adobe nos dois aplicativos e a criação de pacotes para o Debian.

Outra coisa que incomoda é ter o Epiphany como navegador de Internet padrão, mesmo com o Iceweasel — que é como o Debian batizou o Mozilla Firefox, por questões de discordância com os termos de uso da marca da Fundação Mozilla — instalado por padrão. Há que se perguntar qual a motivação por trás da decisão de oferecer dois navegadores de Internet pré-instalados no sistema, sendo que a escolha do navegador padrão tenha recaído pelo menos popular deles.

A tabela a seguir ilustra alguns dos principais aplicativos instalados por padrão no sistema, bem como suas respectivas versões:
Debian 5.0 “Lenny”: aplicativos e versões
Aplicativo

Versão

Função
Kernel 2.6.26 É o Linux propriamente dito
X.org 7.3 Gerenciador de janelas
GNOME 2.22.3 Ambiente de trabalho
BrOffice.org 2.4.1 Conjunto de aplicativos para escritório
Iceweasel (Firefox) 3.0.6-1 Navegador de Internet
Pidgin 2.4.3 Aplicativo para troca instantânea de mensagens
Evolution 2.22.3.1 Correio eletrônico, gerenciador de tarefas, calendário e gerenciador de contatos
Gimp 2.4.7 Editor de imagens
Inkscape 0.46 Editor de imagens vetoriais
Rhythmbox 0.11.6 Reprodutor e gerenciador de músicas
Totem 2.22.2 Reprodutor de filmes
Ekiga 2.0.12 Cliente VoIP

DNA de servidor

No que tange à operação em servidores, área em que o Debian faz cada vez mais adeptos, a preocupação com segurança é sempre uma constante: diversos dos pacotes de serviços do sistema foram compilados com opções de segurança do GCC ativadas ou alterados com patches de segurança — como é o caso do PHP, por exemplo —, no intuito de dificultar a vida dos onipresentes agressores. Versões atualizadas do MySQL 5.1 e do PostgreSQL 8.3 são outras das aplicações que passaram por esse processo de melhoria de segurança.

A equipe de desenvolvimento do sistema também trabalhou pesado no suporte à virtualização: o Xen foi atualizado para a versão 3.2.1 e há suporte também para o KVM. O VirtualBox, por outro lado, está disponível em sua variante de código aberto (OSE) apenas na versão 1.6.6 — no fechamento deste artigo, a versão atual era a 2.1.2, disponível no site do projeto, agora de propriedade da Sun Microsystems. Para instalá-la basta incluir a seguinte linha ao arquivo /etc/apt/sources.list:

deb http://download.virtualbox.org/virtualbox/debian lenny non-free

e usar um dos gerenciadores de pacotes disponíveis para realizar a instalação propriamente dita.
Conclusão

O Debian 5.0 é uma distribuição GNU/Linux que, como de costume, prima pela qualidade, mas não pela disponibilização de versões mais atuais dos programas instalados. Praticamente todos os recursos disponíveis por padrão procuram oferecer recursos utilizando software livre. Essa opção, muito louvável de um lado, dificulta a escolha de alternativas proprietárias, que, infelizmente, em alguns casos, são as únicas que funcionam efetivamente — o caso do Flash Player sendo um bom exemplo (pelo menos por enquanto).

Como sistema para o desktop, a nova versão do Debian pode ser utilizada por usuários iniciantes ou experientes. A instalação dos plug-ins proprietários pode ser um desafio para os primeiros e há que se perguntar por que razão um iniciante deixaria de usar versões um pouco mais amigáveis do Linux baseadas no próprio Debian, como é o caso do Ubuntu, que se concentrou em resolver essas idiossincrasias que fazem da vida do usuário comum um inferno. Já o usuário experiente, que busca estabilidade e consegue superar facilmente esse tipo de transtorno, vai ficar satisfeito em poder trabalhar com um sistema leve, enxuto e extremamente estável, que conta com quase 23.000 pacotes prontos para instalar.

Como servidor, o Lenny é uma atualização obrigatória. Provavelmente, o sistema deverá ser um competidor forte para outras distribuições Linux, para diversos sabores de UNIX e também para o Windows®. Simples de gerenciar, flexível e bastante robusto, o Debian 5.0 veio para melhorar o que já era bom.

Seja servidor ou desktop, entretanto, o fato é que a nova versão continuará a ser a plataforma base de escolha para um grande número de distribuições populares, servidores dedicados (appliances) e dispositivos embarcados — a nova versão oferece suporte a 11 arquiteturas, fornecendo praticamente a mesma experiência de uso em todas elas.

fonte: http://linuxmagazine.uol.com.br/materia/analise_do_debian_50_lenny

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